
Por Alice Rodrigues, Gustavo Rodrigues e Vitória Kimura
Era dia 11 de junho e ele, como todo brasileiro médio com memória afetiva de última hora, estava na fila da loja de perfumes com um urso de pelúcia de um metro de altura debaixo do braço e um cupom de desconto no bolso. Na frente, uma moça discutia se “Amor Sedutor” era uma fragrância muito ousada para quem ainda dividia a senha do streaming, mas não a chave do apartamento. Atrás, um senhor segurava um buquê com cara de quem tinha acabado de lembrar que esquecer a data era pior do que esquecer o aniversário da sogra.
Entre uma olhada no celular e outra na prateleira de colônias com nomes que pareciam títulos de novela da Globo, ele se fez uma pergunta inédita — o que, convenhamos, já era um evento raro para alguém acostumado a comprar presentes temáticos no piloto automático: por que, afinal, o Dia dos Namorados é comemorado em 12 de junho? Não que isso fosse mudar o preço do perfume, mas, já que estava ali, cercado de corações vermelhos e embalagens com glitter, talvez fosse hora de refletir.
Será que tinha a ver com alguma tradição romana? Uma história trágica, daquelas com santos proibidos de casar casais em segredo? Ou seria — e essa era sua aposta mais realista — uma jogada de marketing disfarçada de romance? A fila andava devagar, o urso começava a pesar e o pensamento só crescia. Talvez descobrir o motivo fosse sua forma de resistir ao apelo comercial do amor. Ou talvez só quisesse justificar por que ia dar o mesmo presente do ano passado.
Como a fila do caixa não avançava — o nome do perfume parecia ser uma questão realmente muito importante para aquela mulher —, decidiu pegar seu celular do bolso e pesquisar na internet a história da data que o motivou a estar ali naquela pequena loja em um dia frio. A tela do dispositivo estava fria em contraste com seus dedos; desbloqueou o telefone, conectou-se a uma rede Wi-Fi aberta e abriu o navegador para começar sua busca.
Depois de navegar por sites questionáveis, encontrou um com informações que valiam a pena ser lidas. Para resumir, a origem do “Valentine’s Day”, 14 de fevereiro, remonta a tempos antigos, com ligações a um padre romano chamado Valentim e a um festival romano chamado Lupercalia, que celebravam a fertilidade. A própria Igreja Católica declarou o dia 14 de fevereiro como o Dia de São Valentim, cuja história deu origem aos cartões de amor do Dia dos Namorados.
No entanto, a data comemorada no Brasil, 12 de junho, foi escolhida a partir de uma campanha publicitária de 1949, a fim de movimentar o comércio em um mês pouco movimentado e ser véspera do Dia de Santo Antônio, santo casamenteiro. Mas a verdade é que o valor sentimental que foi atribuído a ela vale muito mais do que a gente pensa!
Mesmo que exista uma data para comemorar o Dia dos Namorados, todo dia é dia de amar, cada vez um pouquinho mais. O amor cria laços que só a convivência real pode explicar. Amamos sensações, amamos olhares, amamos gargalhadas e amamos pessoas — pessoas essas que nenhum presente consegue pagar e que, às vezes, o que quita todas as dívidas é o sorriso de orelha a orelha que aparece quando almas que se amam de verdade, num dia qualquer, voltam a se encontrar.
Ele sentiu alguém tocando suas costas, alguém que o trouxe de volta para a realidade: “É sua vez de pagar, amigão!”. A nuvem de possibilidades que tinha criado na sua cabeça foi embora, e as coisas em sua mão também — abandonou-as no balcão e tomou rumo à floricultura. Ele nunca havia dado um buquê de flores; talvez ela gostasse daquelas que fossem laranjas, da cor de seu cabelo. Ele amava o cheiro dele… o cheiro dela.
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