Palestrantes da mesa de linguagens múltiplas e produção de conteúdo abordam temas como ciberespaço e a importância da permanência da língua
por Ana Beatriz Ferreira e Bianca Landi
Carla Andrea Schwingel, jornalista e palestrante da mesa, soube se utilizar de sua especialidade de maneira ideal ao dar início às discussões de ontem na Jornada Multidisciplinar. Guiada pelo tema da mesa Linguagens múltiplas e produção de conteúdo, a jornalista empregou a seu favor o extenso conhecimento de ciberjornalismo e ciberespaço que detém para abordar a produção de conteúdos na internet.
Em pé, de forma bem articulada e falando diretamente ao público, Carla apresentou seu trabalho em slides de layouts sofisticados que traziam aos ouvintes temas como brainstorming – tempestade cerebral ou tempestade de ideias, sendo uma atividade que serve para testar e explorar a capacidade criativa de indivíduos ou de um determinado grupo, storytelling – maneira original e apelativa de transmitir uma ideia ou um conceito a um público alvo estudado, e o conceito de noosfera, um dos parâmetros principais pelos quais a mesa foi regida, baseado em “tudo aquilo que o ser humano produz e partilha, uma espécie de ‘inteligência coletiva’”, segundo Carla – mais conhecida também como Caru.
Com menções a linguagens e plataformas específicas para a propagação do jornalismo na web, tal qual o Spectra, Caru também levou à mesa especiais de grandes jornais que refletem a forma da qual lidamos com o abandono da bidimensionalidade. Entre eles, dono de um projeto gráfico que chamou a atenção dos espectadores, estava o Snow Fall. Produzido pelo jornal estadunidense The New York Times e vencedor do Prêmio Pulitzer em 2013, o especial é marcado pela técnica do storytelling, numa espécie de crônica em que John Branch faz uso de recursos lúdicos para contar a história de uma avalanche que matou esquiadores em Seattle, fugindo do lugar-comum jornalístico.
Quando questionada, inclusive, se acredita que o jornalista contemporâneo esteja preparado para lidar com o extenso aparato multimidiático que a internet proporciona, Carla diz que sim. “Eu considero que não só o jornalista que está preparado, mas os cursos de jornalismo têm preparado.” Lamenta, por outro lado, “no currículo brasileiro do Jornalismo, nós não temos ainda técnica de reportagem assistida por computador; técnicas de estatística, tabela Excel etc. para fazer uma apuração qualificada, que é a base do jornalismo em campo de dados hoje.”
Sem perder a atenção do público, abordou ainda temas como projeção em 4K (superalta definição de imagens) e mídias digitais, destacando neste último a maneira de usar blogs, wikis – usado para identificar qualquer coleção de documentos e outros sistemas das redes sociais para compor a narrativa jornalística através dos meios convencionais pelos quais se dão a produção, edição e circulação das notícias.
Muito bem humorado, o professor João Batista Freitas Cardoso, jornalista e segundo palestrante da mesa, deu início a sua palestra com um comentário irônico de como o auditório estava repleto de são paulinos, palmeirenses e santistas, devido ao jogo do Corinthians que começaria dali a alguns minutos. Conquistada a atenção do público presente, o professor introduziu a proposta de sua palestra, que foi apresentar a experiência do GT (Estudo das relações entre linguagens nas mídias, motivado pelas novas tecnologias).
Para defender sua proposta, João Batista baseou-se em 23 artigos de outros autores. Citou as mudanças no jornalismo impresso e chamou atenção para os sistemas e os processos de comunicação, afirmando que “mais importante que o texto são as relações estabelecidas”, referindo-se às relações criadas entre os veículos de mídia e os receptores das mensagens transmitidas por eles.
Também durante a apresentação de seu trabalho, o professor citou os danos que o tratamento da língua na internet causam às normas gramaticais, o que remete justamente ao que foi conversado na coletiva de imprensa, na qual ele afirma que só deveriam poder violar as regras gramaticais as pessoas que possuem conhecimento sobre elas. De fato, isso não é o que acontece na internet.
O professor inclusive reconhece a naturalidade do processo de mudança da língua, afirmando que toda língua muda, com ou sem a intervenção da internet, e que o português, principalmente por ter tido sua origem do latim vulgar, também não está livre dessa mutabilidade. No entanto, ele diz que é preciso filtrar essas metamorfoses da língua. A aceitação das mudanças constantes que ocorrem no nosso idioma pode ser perigosa. O palestrante clama por um pensamento crítico mais bem desenvolvido por parte das pessoas para que nem toda e qualquer mudança seja aceita.
Algumas alterações podem apresentar prejuízos a médio e longo prazo para a língua. Quanto a isso, João faz uma provocação durante sua palestra, perguntando se havia alguém dentro da sala onde estavam sendo ministradas as palestras no momento que não possuía Facebook. Ninguém se pronunciou. Dessa forma, o jornalista mostra como as redes sociais subordinam os indivíduos aos seus códigos. Concluindo essa linha de raciocínio, ele afirma não ter Facebook, alegando que não é porque a maioria das pessoas aceita uma mudança que essa mudança deva, de fato, ser acatada pelos demais indivíduos.
Assista à cobertura em vídeo da palestra aqui.
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