por Bianca Landi
A realização de documentários é algo que tem chamado muita atenção em todo o mundo. É crescente o número de pessoas interessadas em produzir e assistir documentários, já que se tratam de uma maneira informal e ao mesmo tempo completa de se interar sobre algum assunto. A formação de documentários será o tema central da oficina ministrada por Patrícia Basseto, graduada em Rádio e TV pela UNESP de Bauru, na XV Jornada Multidisciplinar. Para conhecer mais sobre o assunto e sua oficineira, confira abaixo a entrevista com Patrícia.
Vimos em seu perfil acadêmico que você fez seu mestrado focando a televisão digital, envolvendo o tema de documentários interativos. Na oficina que você apresentará na XV Jornada Multidisciplinar, o tema é justamente o de produção de documentários. Como se deu a opção por esse projeto de pesquisa?
Eu escolhi cursar Rádio e TV na graduação justamente pela possibilidade de fazer documentário, porque sempre fui apaixonada pela possibilidade de mostrar o real, o cinema “verité”. Adentrar o mundo do outro, conhecer, desvendar e apresentá-lo ao público, ensinando, compartilhando e principalmente diminuindo distâncias entre mundos e quebrando barreiras.
Em seu documentário “Super Size Me” E Um Parênteses Brasileiro você faz um projeto de análise do documentário de Spurlock à realidade brasileira, enquanto que pesquisas recentes revelam dados alarmantes com relação à obesidade infanto-juvenil em nosso país. Esse problema, no entanto, já é alvo de polêmicas há algumas décadas nos Estados Unidos. O que levou o brasileiro a cometer os mesmos erros do norte-americano ao invés de tomá-los como exemplo para que não tivéssemos que sofrer as mesmas consequências?
Eu fiz um projeto de análise do doc Super Size Me porque naquela época (em 2006) o “boom” do fast food se fazia sentir no Brasil. Cidades de médio e pequeno porte começaram a ter franquias de Mc Donald’s, Burguer King e do brasileiro Habib’s, que antes eram mais um fenômeno de cidades grandes e capitais. O que eu acredito que rolou no Brasil foi a soma de vários aspectos: primeiramente uma facilidade ao acesso às redes de fast food, depois o poder econômico da população que aumentou, e como os brasileiros sempre receberam muito a cultura norte-americana através de séries e filmes, na hora que se viu tendo acesso e dinheiro, houve um “boom” do fast food. O brasileiro quer ser inserido no mundo, e ir ao Mc Donald’s aqui causa esse efeito de fazer parte do global. No Brasil, diferentemente dos Estados Unidos, é uma forma de status, para a grande maioria da população é um passeio, é a família indo ao Mc Donald’s. E, claro, ainda tem toda aquele excesso de propagandas, de incentivo ao consumo, do brinquedo que atraia crianças e colecionadores. Além disso, cada vez mais nossas vidas são mais corridas, nosso tempo mais escasso, e nisso a alimentação tem que ser rápida, pronta e massificada. Só que aí a gente entra no aspecto de que normalmente comida rápida é feita para ser gostosa sem necessariamente ser nutritiva, e a alimentação é algo pessoal, cada corpo e rotina necessitam de um cardápio específico, o que ninguém vai encontrar em redes de fast food.
Vivemos em uma era na qual, embora o fluxo de informações seja muito grande, a maioria nem mesmo é absorvida por grande parte dos cidadãos. Você acredita que, diante disso, o compromisso dos documentários tornou-se ainda maior e mais amplo? Como chamar a atenção do grande público para temas que precisam de estudos mais aprofundados?
Acredito que mais gente está produzindo e trabalhando com documentários, porque hoje de fato é mais acessível adquirir inclusive equipamento de captura e edição. Com o celular você pode registar imagens e criar um documentário experimental, por exemplo. E, claro, com mais gente produzindo é um pouco mais difícil se destacar, mas acredito que o diferencial do documentarista é a relação de afeto que em geral ele cria com o objeto. Se essa paixão for bem explorada e ele conseguir isso no vídeo, e esse vídeo conseguir um espaço que seja na internet ou nas mídias tradicionais, com certeza será destaque, e o sucesso virá ou pela pertinência do tema (por exemplo: assuntos que estão em voga, personalidades de mídia e etc), ou pela originalidade mesmo, que nesse caso é bem o lance do glocal a ser explorado, do local que se torna global.
Uma das maiores vantagens para alunos de comunicação que optam pela UNESP são os projetos de extensão oferecidos pela faculdade. Vimos no seu Currículo Lattes que você participou de alguns desses projetos ao longo da sua formação. Como foi essa experiência e o que você tem a dizer sobre esse diferencial que a FAAC oferece aos seus alunos?
Penso que a universidade é muito mais do que a sala de aula: é uma experiência agregadora, se você quiser pode ir muito além da sala de aula. Participei do projeto, que ainda existe, chamado Pau a Pixel, no qual tinha bolsa. A bolsa me incentivava ainda mais no projeto e a participação me fez ter a oportunidade de vivenciar a minha profissão de maneira experimental antes de ir ao mercado de trabalho, que foi enriquecedor. Fui do Cacoff e do Dadica também, buscando lutar pelas melhorias na universidade. Na época, a gente batalhava por um restaurante universitário (R.U.) e pela moradia. E eu e mais outros alunos de outros cursos da FAAC (tinham alunos de Relações Públicas e Jornalismo, além de Rádio e TV) criamos um grupo de estudos chamado Mídia Livre, com o objetivo de trazer propostas do Mídia Independente à Bauru. Fizemos uma festa para juntar dinheiro e podermos ir ao Fórum Social Mundial gravar documentários, e conseguimos! O lance é não se acomodar, não desistir, ir atrás, tentar bolsas de projetos, correr atrás de Capes, Fapesp e grupos de estudos. Vá aos departamentos e leia o mural, tem sempre algo bacana por lá. Se não tiver nada que te interesse, crie seu projeto! Faça sua parte, busque aprender, compartilhar experiências e etc. A FAAC está cheia de possibilidades, oportunidades e gente interessante. Busque e viva ao máximo os anos da universidade, que é uma chance não só de se formar em uma profissão, mas principalmente enquanto ser humano, convivendo com tanta diversidade cultural.
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