Que nem todas as histórias que ouvimos por aí são verdade, nós já sabemos. Mas será que até alguns acontecimentos históricos são duvidáveis? Pois é, nem sempre conhecemos os maiores feitos da forma que estes ocorreram de fato. E em honra à data de hoje, como já diz o samba-enredo da Mangueira, vamos contar a história que a História não conta e retratar como, ainda que no século XIX, Dom Pedro I construiu um “plano de marketing” em cima da Independência do Brasil.
Alguns anos antes da independência ser oficializada pelo príncipe regente e toda a côrte, a ideia de ser independente não era cabível, já que as revoluções que objetivavam a independência, como o caso da Revolução Pernambucana, foram massacradas.
O estopim de tudo aconteceu no ano de 1820. Em meio a uma crise política, econômica e social em Portugal, houve uma Revolução baseada nos princípios iluministas e que, apesar de ter caráter liberal, era extremamente conservadora em relação ao Brasil, que até então fazia parte do Reino Unido de Portugal e Algarves, reivindicando que voltássemos a ser uma colônia.
Após injustos acordos e determinações propostas pelos colonizadores, estes determinaram que o filho de Dom João IV, Pedro de Alcântara, deveria voltar para Portugal, já que estava no Brasil. Dessa forma, houve um esforço do partido brasileiro para que o príncipe regente não regressasse ao país de origem. Foi então proclamado o Dia do Fico, em 9 de janeiro de 1822 e, à partir desse momento, o príncipe começou a tomar medidas cada vez mais separatistas.
O Girl Power na Corte Luso-Brasileira
De acordo com alguns historiadores, a princesa Leopoldina, esposa de Pedro, foi uma das grandes idealizadoras da independência brasileira. Isso porque Leopoldina estava na regência do Brasil enquanto Pedro viajava para São Paulo. No momento de sua viagem, Portugal revogou todos os decretos propostos pelo príncipe, acusando-o de traição e, à partir deste momento, a princesa regente viu a necessidade de se promulgar a independência do reino.
Um grande detalhe que, muitas vezes, nos é escondido na escola, é que o decreto de independência foi assinado pela própria Imperatriz. Ou seja, o Brasil se tornou independente através da assinatura de uma mulher.
“Enfim, a hipocrisia”
Segundo o que nos contam, o agora Imperador Dom Pedro de Alcântara recebeu as cartas e o decreto assinado às margens do rio Ipiranga, em São Paulo e, após lê-los, gritou vigorosamente “Independência ou morte!”, empunhando sua espada.
E é aí que o marketing começa realmente, pois, na prática, esse grito não foi dessa forma e há quem diga que ele nem sequer aconteceu! O dia 7 de setembro é considerado apenas um dia simbólico, pois aconteceram inúmeros prelúdios que podem ser tidos como o dia oficial da independência. Um exemplo é o dia da assinatura do decreto, pela própria Imperatriz.
A história da Independência do Brasil é realmente comovente, não? Não. É exatamente aí que nos enganamos, pois éramos uma nação independente governada pela metrópole, já que Dom Pedro I era português. Enfim, a hipocrisia.
É preciso desmentir também a ideia de que o país se tornou independente sem guerras pois, na verdade, houve, sim, muitas guerras e disputas entre brasileiros e tropas portuguesas que estavam aqui.
O marketing presente em imagens e símbolos famosos
Alguns são os mais importantes símbolos da data que declarou o Brasil como uma nação independente. Podemos citar os quadros “Independência ou Morte”, de Pedro Américo, e “A Proclamação da Independência”, de François-René Moreaux. Ambas as obras retratam com um grande nacionalismo o nascimento do nosso país como uma nação independente, mas não foi desta forma que de fato aconteceu. Além disso, na obra de Moureaux, não são retratados negros e indígenas, apenas camponeses europeus.
Outra problemática também se encontra na dependência financeira da Inglaterra que o Brasil adquiriu, já que precisou pagar uma indenização altíssima a Portugal para que tivesse a independência reconhecida. Ou seja, nos livramos das amarras de Portugal, mas nos acorrentamos à Inglaterra.
Historiadores mostram que o Brasil não vivia seus anos de glória quando o então príncipe regente Pedro de Alcântara declarou a independência do país. É interessante pontuar que não existia uma homogênea identidade cultural: não existia o sentimento de orgulho em ser brasileiro. Um dos motivos era a diversidade dos povos que viviam no território e também a exclusão de diversos destes.
Plano de Marketing executado com sucesso!
Através dos anos, décadas e séculos, o ideal nacionalista que a corte planejou foi implantado com sucesso! Todos os esforços para concretizar essa ideia heroica e nacionalista da Independência do Brasil, através de obras de arte e versos no nosso Hino Nacional foram certeiros e, por muito tempo, inquestionáveis.
Ao decorrer do tempo, entretanto, a história foi ganhando outros olhares à partir de diferentes pontos de vista e as percepções sobre o ocorrido foram se modificando. Mas se tem algo que o Príncipe Regente e sua corte mostrara é que não é de hoje que as estratégias de Marketing são preciosas e poderosas.
Produção de Camila Martins Do Espírito Santo, Assessora da Jornal Jr.
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