No Brasil, o suicídio é a quarta forma mais comum de morte entre jovens. Em relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) consta que “as tentativas de suicídio de adolescentes estão muitas vezes associadas a experiência de vida humilhantes, tais como o fracasso na escola ou no trabalho ou conflitos interpessoais com um parceiro romântico”.
A sociedade se encontra numa era de imediatismo, em que as pressões estão fincadas de forma mais profunda. Trazendo o assunto para um âmbito acadêmico, conversamos com o psicólogo Edson Olivari de Castro, que possui como áreas de atuação a saúde mental, o tratamento e prevenção psicológica e a psicologia clínica.
Em entrevista, abordamos sobre como o meio acadêmico pode influir na vida do indivíduo a ponto dele cometer o ato suicida. “É tudo muito rápido, acredito que as pressões atuais não mudaram em relação às do passado, o que mudou foi a cultura na qual essas pressões ocorrem”, comentou o profissional.
Edson também indagou sobre a cobrança de ser o melhor: “Você tem que ser sempre suficiente e sempre estar fazendo algo novo e, assim, vai se criando uma dívida eterna. É que nem quando o seu pai fala que você pode escolher o curso que quiser, desde que você seja o melhor. Mas, o que significa ser o melhor? As pressões adquiriram mais força e, a gente, menos força”.
Mídia e sua abordagem
O tema ainda é pouco abordado pelos grandes veículos midiáticos, devido ao chamado “Efeito Werther”: o suicídio por indução, em que, quanto mais o assunto é comentado, mais estímulos são dados para que outros o cometam. “Por muito tempo se dizia que não era bom divulgar o tema porque causaria um pensamento de ‘se ele consegue, eu também consigo’, servindo de incentivo”, ressaltou o psicólogo.
Em relação ao diálogo que os meios de comunicação mantém, Edson acredita que esses assuntos são tratados de uma forma muito mercadológica, ou seja, para vender. E, para o psicólogo, isso acontece pois estamos em uma onda de consumo.
Camadas mais vulneráveis
Orientação sexual e rejeição são dois fatores que podem desencadear depressão, e até mesmo finalizar em autodestruição. De acordo com pesquisa feita pela University College Cork na Irlanda, cerca de 40% dos jovens homossexuais entrevistados já pensaram ou tentaram dar fim a própria existência. Já entre os bissexuais, a mesma resposta foi pronunciada por 30% dos participantes. Durante a apuração, se concretizou que as mulheres lésbicas possuem uma maior incidência de aspiração ao ato.
Redes sociais e o suicídio
A tecnologia influencia fortemente os relacionamentos. Se relacionar fora do mundo digital é um problema para muitos jovens, e muitos suicídios ocorrem por esse motivo. Estudos mostram que a busca incessável pelo like é tão viciante quanto uma droga, e a exposição nas redes sociais deixa, principalmente jovens, vulneráveis ao cyberbulling. O que antes acontecia em um ambiente escolar, agora acontece em todas as redes sociais.
A automutilação digital é um tema que precisa ser ressaltado. Postar e compartilhar mensagens abusivas sobre si mesmo anonimamente tem preocupado especialistas brasileiros. Um estudo recente realizado pela revista científica Journal of Adolescent Health mostra uma pesquisa com mais de 5 mil estudantes nos Estados Unidos, com idades entre 12 e 17 anos, em que um em cada 20 revelou ter praticado automutilação digital.
Como auxiliar?
É importante ter uma conversa direta com a pessoa suspeita de cometer um possível ato suicida. O professor Edson diz como se dever agir nesse momento: “Uma rede de apoio deve ser criada, observe se seu colega está perdendo muito interesse ou não faz muitos planos. Essas coisas devem ser conversadas, é necessário ter uma proximidade.”
O diálogo precisar ser aberto, mas com respeito, empatia e compreensão. O foco da conversa deve ser o outro, não desmerecendo suas dores, conversando com calma e em um lugar tranquilo, que gere confiança para a pessoa. O choro é normal, e pode vir, e precisa ser tratado de uma forma natural, sem repreensões ou caras feias. Mostrar interesse no que o outro sente é muito importante para ele perceber que o outro lado realmente quer ouvi-lo, e está disposto a ajudá-lo. Além de oferecer suporte emocional, é preciso informar sobre ajuda profissional, e, caso haja relato claros sobre planos para se matar, é primordial não deixar a pessoa sozinha.
Programação CVV
O Centro de Valorização da Vida é, segundo Edson, “Um dispositivo bom, pois garante um anonimato. As pessoas lá estão preparadas para isso, para que se percebam compreendidos. Porém, possui uma certa distância, uma vez que você não acompanha o cotidiano da pessoa”
Segundo o CVV, 32 brasileiros morrem de suicídio por ano, e falar abertamente sobre o assunto é fundamental para diminuir este índice. Pensando nisso, o CVV de Bauru está organizando várias atividades pela cidade para falar sobre o tema, com o objetivo de informar as pessoas.
Concertos, palestras, show pela vida, desfiles e tributos estão inseridos nessa programação do Setembro Amarelo, para trazer uma maior conscientização sobre o suicídio, que ainda enfrenta tabus. Para mais informações sobre toda a programação do Setembro Amarelo, acesse a página do CVV de Bauru: https://www.facebook.com/cvvbauru
Por: Ana Cristina Marsiglia e Joyce Moraes