por Isabela Romitelli Rocchi
Facebook, Twitter, portais de notícias, blogs… A cada dia a internet vem ganhando força na divulgação de conteúdo jornalístico. Mas como produzir para essas mídias? Caru Schwingel, mestre em cibercultura e doutora e ciberjornalismo, estará presente na XV Jornada Multidisciplinar para tratar desse assunto.
Formada em jornalismo, Caru foi a primeira a produzir uma pesquisa aplicada em ciberjornalismo no Brasil, no ano de 2003. Seu artigo, foi publicado no livro “Modelos de Jornalismo Digital”. Depois deste primeiro trabalho científico, Carla publicou dois livros, “Ciberjornalismo” e “Mídias Digitais – Produção de conteúdos para web”.
Para conhecer um pouco mais sobre a palestrante e apaixonada pela internet, Caru conta mais sobre sua vasta experiência no mundo digital na entrevista abaixo.
Quando começou a se interessar pelo ciberjornalismo as pesquisas na área eram quase inexistentes e as novas mídias eram tratadas como ferramenta, e não veículo. Como surgiu o interesse pela temática?
O fascínio pela internet veio quando a acessei pela primeira vez em 1994. Entrei [no site] do Museu do Louvre e não conseguia compreender como toda aquela informação estava disponível de maneira gratuita. Também fiquei fascinada pelas possibilidades para a produção de conteúdos propiciadas pela rede.
Comecei a trabalhar na área em 1995. Era a única jornalista em uma empresa com mais de mil informatas, a Procergs (Companhia de Processamento de Dados do Rio Grande do Sul). Fui trabalhar no VIA RS (provedor do Governo do Estado) desenvolvendo produtos e serviços para o provedor e para as páginas das Secretarias do Estado.
Após uns três anos na produção, comecei a sentir necessidade de compreender os processos que vivenciava no dia a dia com a equipe de desenvolvimento e os usuários internet, pois era quem recebia e respondia parte de suas demandas. Até então, somente havia na UFBA e UnB estudos sistemáticos e bem fundamentados na área de cibercultura e ciberjornalismo no Brasil.
Ao conhecer o trabalho de André Lemos, da UFBA, e ficar surpresa por toda a produção do Ciberpesquisa estar – em 1997 – disponível na web, resolvi ir para a Bahia estudar os processos criativos de conteúdos para o ciberespaço. Analisei as equipes de desenvolvimento do ZAZ-Terra e da VIA RS e a comunidade de desenvolvimento de Software Livre do Rio Grande do Sul. Defendi a dissertação em 2002, já como professora substituta na Facom/UFBA. Junto com os alunos, desenvolvemos um Sistema de Publicação de Conteúdos para o produto/veículo digital da disciplina. Com o artigo publicado no livro “Modelos de Jornalismo Digital”, em 2003, descobri depois ter realizado a primeira pesquisa aplicada em ciberjornalismo no país.
Pensar, estruturar os conteúdos desde a arquitetura da informação, os bancos de dados, as diferentes formas de pensar espacialmente e apresentar em uma interface bidimensional, é interessantíssimo. Como contamos uma história, como estruturamos narrativamente uma matéria? Foi um desafio para os jornalistas que vivenciaram o começo do ciberjornalismo. Tive a sorte e oportunidade de conhecer a internet já produzindo conteúdos, estruturando narrativas, e não como usuária. Então, pude rapidamente compreender o ciberjornalismo como processo em um ambiente imersivo, hipertextual, multimidiático que se estrutura através das possibilidades do meio.
Os estudantes de jornalismo de hoje nasceram com a internet em suas casas, então os desafios são outros. Mas nada muda no processo de produção do jornalismo. É preciso saber apurar, estruturar os conteúdos, editá-los e fazê-los chegar ao público onde quer este esteja, utilizando qualquer tipo de dispositivo para visualização.
O Jornalismo Digital ainda é pouco trabalhado no ambiente universitário. Qual a importância do contato dos alunos com a nova linguagem trabalhada pela novas mídias?
Pensar hoje em jornalismo sem que esteja em ambientes digitais não é mais possível. Se um curso de comunicação não adota essa perspectiva é porque está defasado. Jill Abramson, editora-chefe do The New York Times, acaba de afirmar isso no Simpósio Internacional de Jornalismo Online que ocorreu nos dias 19 e 20 de abril na Universidade do Texas (EUA). Hoje não se pode pensar somente em uma modalidade, tal o impresso, o radiojornalismo ou o telejornalismo. Abramson disse que não contrata jornalistas muito focados em somente texto, por exemplo. A formação precisa ser pluralista, e não há melhor forma de treinar tal pluralidade do que trabalhar as novas linguagens, utilizando ou desenvolvendo dispositivos e protótipos.
A hipertextualidade, a multimídia, a interatividade, a constante atualização, a possibilidade de recuperação das informações postadas anteriormente, o fato de não haver mais limites de tempo ou espaço para narrar determinada história e a utilização de sistemas automatizados para publicar os conteúdos são características do ciberjornalismo. Na estruturação narrativa é que as novas linguagens se constituem, então, produzir jornalismo contemporâneo é trabalhar as linguagens para as mídias digitais.
A Jornada Multidisciplinar é um evento que visa a divulgação de pesquisas e a troca de novas ideias. Em sua opinião, qual a importância entre o diálogo entre os alunos e profissionais?
Este diálogo é fundamental. Temos um distanciamento ainda no Brasil entre o conhecimento acadêmico e as redações e empresas jornalísticas. O que é uma perda para ambos, porém acredito que seja maior para as empresas, pois na academia, nos cursos há (ou deveria haver) espaço para a experimentação, para a pesquisa, a proposição de protótipos, de narrativas, de projetos diferenciados e inovadores, o estudo de novas linguagens e dispositivos. As pesquisas sobre Ciberjornalismo no Brasil nos cursos de pós-graduação são muito boas.
A aproximação entre academia e mercado acada se dando no diálogo entre pesquisadores, professores e alunos com os jornalistas profissionais proporcionado por eventos como este, por isso sua importância.
SERVIÇO:
Mesa “Linguagens Múltiplas e Produção de Conteúdo” | 15/05, das 19 às 22h | Inscrições até o dia 14/05